QUEM TEM MEDO DE 6º ANO? DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Por Cláudio Correia de Oliveira Neto
Mestre em História - UFRN
Especialista em Educação - IFRN
scriptum.cursos@gmail.com
É um mundo de desafios e possibilidades

            As nossas últimas postagens têm girado em torno de assuntos que em geral são os pesadelos dos Historiadores (o Método Histórico, a Avaliação Escolar e a Seleção de Conteúdos), dando continuidade aos problemas que assombram os profissionais de História falaremos sobre os temidos 6º anos do Ensino Fundamental II.
            Eles são “fofos”, agitados, nos deixam exaustos e sem voz. Se você é iniciante na arte de ensinar História com certeza irá parar em uma turma dessas. Taxados maldosamente de os piores da escola, no fundo são seres incompreendidos. É no intuito de ajuda-los e a você colega de aperreiamento que vai este pôster (em especial para a minha amigona Luciere).
Não adianta se desesperar!

O TEMPO DAS MUDANÇAS
            O primeiro grande problema de todo 6º ano é que eles estão no tempo das mudanças: físicas, pedagógicas e emocionais.
O corpo deles está deixando de ser de criança, ainda não é de adolescente e nem de adulto. É um corpo em limbo, que muitas vezes é silenciado, não se comenta com ninguém e se passa por está angústia da indefinição, sozinho sem ter com quem conversar sobre.
Toda a vida escolar do aluno até aquele momento foi trabalhando com uma mesma professora durante todo um ano letivo. Havia uma regularidade e uma interação mais constante, com atividades mais concretas (desenhos, corte, colagem, jogos educativos). No Ensino Fundamental II é uma miscelânea de disciplinas, professores, metodologias e níveis de afetividades. Somado isto a falta de um acompanhamento pedagógico que ajudem o alunado a adaptarem-se as mudanças resulta em um alto índice de reprovação nos 6º anos.
Novos modelos de relacionamentos surgem (paqueras, namoros, novos interesses). Muitas vezes sem um norteador eles se perdem no turbilhão de sentimentos e não conseguem elencar as prioridades. Em boa parte destas mudanças eles estão sozinhos e sem orientação.
Este panorama de mudanças deve ser considerado pelos educadores e usado como fértil terreno para a aprendizagem. Não devemos marginalizar nossos estudantes, devemos orienta-los. Guiar o caminho das pedras pelo qual todos passaram. Neste sentido  devemos ser facilitadores (compreender e orientar).

O TEMPO DA PERCEPÇÃO TEMPORAL
            A tradição escolar (os PCNs nada indicam sobre os conteúdos em História terem que dar conta de toda a História Humana ou seguir a linearidade cronológica) coloca para esta série conteúdos referentes a mais de 5000 a.c  para sujeitos que tem, quando muito, 13 anos de experiência de vida. É extremamente difícil que indivíduos que viveram tão pouco tenham uma percepção temporal tão extensa.
            A percepção temporal está diretamente ligada às experiências dos sujeitos com a coletividade (com pessoas de diferentes idades, objetos de varias temporalidades, leituras, viagens). As vivencias coletivas são diretamente proporcionais ao refinamento da noção de tempo. Mas independente da vastidão (ou limitação) das práticas sociais do sujeito o referencial temporal sempre será a sua idade (na fase do 6º ano o umbigo deles ainda é a medida de todas as coisas).
            O que é possível fazer é proporciona as turmas do sextos anos mais contato com o passado (repetindo diferentes idades, objetos de varias temporalidades, leituras, viagens), substituindo gradualmente o referencial simplista deles por outros mais complexos.

O TEMPO DOS ESTÁGIOS
            Para os Historiadores que habitualmente (por pura necessidade financeira) que pegam 10 turmas o melhor referencial teórico quando se trata de teoria do desenvolvimento é Jean Piaget. Por ser mais generalizante e dá conta de um grupo maior de indivíduos ele é mais fácil de ser usado e atende a demanda de quem possui mais de 250 alunos e não consegue dá tratamento mais individualizado. Baseado nos estágios Piagetianos o alunado está passando do Operatório Concreto para o formal.
O Operatório Concreto se caracteriza pela consolida as conservações de número, substância, volume e peso. Capacidade de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o mundo de forma lógica ou operatória. A organização social é a de bando, podendo exercer chefia ou admitindo a chefia. Já podem compreender regras e estabelecer compromissos. A conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que, no entanto possam discutir diferentes pontos de vista para que cheguem a uma conclusão comum.  
O Operatório Formal é o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê em nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.
Por falta de estímulos do meio é comum uma estagnação mais longa no Operatório Concreto, facilmente percebido quando um aluno copia o esquema do quadro no caderno sem fazer as devidas alterações (o professor dividiu o quadro ao meio com uma linha e o aluno opera a mesma coisa em seu caderno não percebendo que deve fazer uma adaptação do conteúdo do quadro para o caderno). Quando ocorrem estes casos a saída é estimular através de atividades que mostrem diferentes pontos de vista (correção coletiva do dever de casa é uma ótima opção) , exijam imaginação e uso de linguagem metafórica (trabalhar com literatura de maneira geral e com poemas mais especificamente é uma opção valida).

O TEMPO DO ATO
            O baixo nível de concentração (a média de tempo de concentração é de 15 minutos por atividade), por motivos já elencados em itens anteriores, exigem atividades curtas, com concretude (que possam ser vistas, tocadas e se possível ouvidas, cheiradas e degustadas) e variadas. As atividades curtas devem ser intercaladas com períodos progressivos de atividades que exijam concentração, pois a habilidade de parar para ouvir e refletir devem ser exercitada e desenvolvidas para os demais níveis de ensino.
            A aula expositiva não funciona muito bem, opte por propostas de atividades. Com isso você economiza tempo, voz e otimiza a aprendizagem, mas cuidado se a turma for grande você tem que ver se funcionará.

O TEMPO DA INFORMAÇÃO
Que tal planejar uma aula na biblioteca?

            Não é hora de discussões teóricas aprofundadas. É hora de aprender a pesquisar, a recolher informações. A informação é à base do conhecimento e o Ensino Fundamental é à base do Cidadão Crítico. Ser critico é saber transformar informações em conhecimentos. Ensine os estudantes a usar os instrumentos de pesquisa (dicionário, internet, livro e etc). Ensine-os a coletar e selecionar dados. Desenvolva também neles as habilidades de organizar e expor as informações coletadas nos diferentes meios/suportes.
            Com estes alicerces no Ensino Médio o professor terá uma sólida estrutura para discutir e construir conceitos. De posse de informações será então possível construir Conhecimento Histórico.
O TEMPO DA NARRAÇÃO
A Narração é uma ótima opção para ajudar seu aluno a desenvolver o gosto pela História

            A História para o Ensino Fundamental II deve ser uma grande aventura da qual o aluno deve embarcar. A narratividade deve ser o foco do Historiador para este nível de escolarização. O aluno deve ser pego pelo lado lúdico, a curiosidade histórica, a narração espetacular. Ele precisa saber os eventos históricos que ocorreram, os sujeitos que participaram dos eventos, a data dos eventos, os espaços em que ocorreram e a sequencia destes eventos. A Narração Histórica é o gatilho para a Reflexão e Análise Histórica que devem ser realizadas no Ensino Médio.
            O profissional de História deve ser econômico em suas narrativas (nada de muitos detalhes, só quando interpelado ou necessário para compreensão da narrativa) e usar o maior número de suportes possíveis (texto escrito, imagens, vídeos, fotografias e etc) para contar a História.

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