EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE
Por Cláudio Correia de Oliveira Neto
Historiador – UFRN
Especialista em EJA no contexto da diversidade – IFRN
Mestre em História – UFRN
Técnico Integrado em Controle Ambiental – IFRN
1. INTRODUÇÃO
O presente texto pretende trazer provocações que nos ajude a pensar o ensino de história indígena não só como conteúdo obrigatório da educação básica, mas como estratégia política para a construção da justiça social fazendo uso do arsenal teórico-metodológico dos conceitos de contexto e diversidade. No primeiro momento discutimos o papel destes dois conceitos tanto para a reflexão cientifica quanto para a prática política. E por fim pensamos a qual público e quais interesses se destina o ensino de história indígena. Não pretendo aqui prescrever, mas meramente provocar a discussão e mobilizar os agentes políticos.
2. CONTEXTOS E DIVERSIDADE: CONCEITO (E AÇÃO)
Na última década dois conceitos se destacam nas discussões das ciências humanas: contexto e diversidade. Ao mesmo tempo que vão se popularizando também vão se esvaziando e perdendo o sentido. Acabam na repetição automática. Nas ciências humanas cada conceito é precioso e importante tanto para a reflexão quanto para prática, contexto e diversidade não fogem a esta regra. Então antes de mais nada é preciso defini-los. Contexto é o substantivo usado para designar os elementos, fatores, atores, ações e ideias que produziram determinadas situações e sujeitos. Geralmente pode ser adjetivada como social, cultural ou histórico, em ambos os caso ela remete a uma tentativa de compreender o processo gerador do fenômeno em análise. Todas as coisas que nos cercam possuem um contexto, ou seja, foram produzidas. Ao buscar o contexto de algo estamos buscando desvendar a trama que teceu aquele enredo, os interesses que estão ligados direta e indiretamente aquela situação que se enfrenta. Contextualizar é desvelar o mundo que nos cerca a procura de algo que nos auxilie a pensar uma solução. Portanto ao falar de contexto do ensino de história indígena estamos querendo elucidar todos os elementos, fatores, atores, ações e ideias que produzem este saber, levando em consideração o social, o cultural e o histórico. Sem isto é impossível romper com a indiferença.
Diversidade está ligado ao conjunto de diferenças existentes na humanidade. Ela constitui um dos elementos fundamentais a sobrevivência humana, a muito é sabido da biologia que sem a diversidade não existiria vida na terra. É importante ressaltar a diversidade como um elemento fulcral a sobrevivência da espécie humana. Ela não é um capricho antropológico ou uma verborragia do politicamente correto, ela é um elemento ontológico da existência humana. E como tal ela deve estar presente nos currículos como princípio educativo. No que diz respeito ao ensino de história indígena é fundamental lembrar que embora haja um laço que una os povos indígenas enquanto minoria étnica no Brasil, dentro de si há uma diversidade. Mesmo que todos os ameríndios brasileiros partilhem de uma história marcada pelo etnicidio, cada grupo o enfrentou de maneira distinta. Ser índio/índia está atrelado também as experiências especificas daquela comunidade, Xingu, Canindé e etc possuem vivencias particulares, mesmo sendo todos indígenas. É precisos tanto construir a unidade dos povos indígenas quanto valorizar as suas diversidades.
3. ENSINO DE HISTÓRIA INDIGENA: PARA QUEM E PARA QUE?
Contextos e diversidade não devem andar apartadas uma da outra, mas trabalharem dialeticamente construindo pontes e derrubando muros. Precisam ser mais do que conceitos, tem que serem práticas cotidianas do fazer pedagógico. Óbvio que não se trata de uma tarefa fácil, contudo não é algo impossível. Partindo do contexto em que está inserida a comunidade devemos então perguntar: que conjunto de habilidades e competências meus alunos devem possuir para superar as atuais adversidades? Eles precisam saber fazer uma abaixo-assinado? Eles precisam ler textos jurídicos? O que é necessário saber sobre o processo que trouxe a comunidade ao qual eles pertencem até a atual situação? Que conjuntos de diferenças se apresentam na comunidade em que atuo? Como posso valorizar estas diferenças? Como posso colaborar para evitar que as diferenças se tornem desigualdades?
O Ensino de História Indígena dentro da atual política educativa se configura como uma das mais importantes armas no combate a intolerância, e os conceitos de contexto e diversidade valiosos instrumentos na fabricação de um mundo mais justo para as populações indígenas. Contudo não é só aos povos ameríndios que se destina a este conteúdo, penso que sobretudo é ao não índio que mais interessa tal conteúdo. Importa ao não índio pois é direito dele saber que existe um conjunto diverso de outras existências que vão para além daquelas que estão em seu repertorio familiar e social. É direito dele descobrir o outro que dele difere, como é direito dele também se irmanar e ser empático com os povos indígenas. E é dever dele lutar junto com os indígenas na garantia da justiça social que leve em consideração contextos e diversidade. A História que portanto tempo separou pode agora unir.
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